quinta-feira, 1 de maio de 2014

A CHUVA

PAÍS DE ORIGEM: MÉXICO

Houve, um tempo em que os homens não tinham, como têm hoje, muitas cidades onde nascer, mas apenas duas: Cidade do Céu e a Cidade da Terra. Os dois reis daquele tempo eram amigos, porque o rei do Céu, apesar de muito poderoso, não era conquistador. Se quisesse ele dominaria o reino da Terra e o teria como escravo. Mas ele se contentava em governar bem o seu reino e, apesar da ajuda dos súditos, ele também trabalhava, para manter tudo em ordem. O rei do Céu tinha um filho e o rei da Terra uma filha. Não se pode dizer como era o príncipe, mas a princesa ▬ dizem aqueles que a conheceram ▬ era tão bonita que, ao lado dela, até as flores perdiam a sua razão de ser.
Os dois cresciam sem saber que um dia, por causa deles, seus pais iriam brigar. E a princesa tornou-se moça e o príncipe homem feito. O rei do Céu quis casar o filho e não pensou em nenhuma de suas súditas para nora. Escolheu a filha do rei da Terra para esposa do filho. E como sempre foi lei que o pai escolhesse com quem os filhos deviam se casar, o rei do Céu, sem consultar o príncipe, chamou umas fadinhas, conhecidas como biniguendas, que tinha ao seu serviço, para que descessem à terra a fim de pedir a mão da princesa. Depois de decorarem bem decoradas as palavras do rei, as biniguendas saíram pela porta iluminada de uma estrela e sumiram. Eram tão rápidas que a própria luz que vinha do céu tinha dificuldade de alcançá-las.
E foi junto com a luz da manhã que elas chegaram à única cidade que havia na terra. Sábias como eram, as biniguendas não precisaram perguntar onde ficava o palácio. Também não necessitaram bater à porta pois, além de rápidas e sábias, eram prodigiosas e assim foram diretamente à sala do trono. Diante do rei, uma das embaixadoras ▬ a mais velha ▬ transmitiu a mensagem do rei do Céu.
O rei da Terra mandou chamar a filha. Muda e com a cabeça baixa, a princesa ouviu o desejo do soberano do Céu e, quando o pai lhe pediu uma resposta, ela disse que amava loucamente um criado do palácio e que não se casaria com nenhum outro homem que não fosse ele. O pai a amava muito e não faria nada que a fizesse infeliz. Depois que ela se retirou, o rei da Terra comunicou às embaixadoras do Céu que ele próprio transmitiria ao soberano celeste a decisão da filha. As biniguendas do céu desapareceram silenciosas.
O rei da Terra também tinha biniguendas misteriosas, rápidas e prodigiosas ao seu serviço. Mandou chamá-las e colocou-as a par da vontade da filha. As biniguendas terrestres, então, subiram ao Céu levando a reposta. Lá chegando, uma delas ▬ sempre a mais velha ▬ transmitiu a mensagem que traziam da Terra. O rei do Céu levou um choque e ficou furioso. De repente, deu-se conta da força que tinha, e a raiva que sentia levou-o a querer tirar-nos o Sol, a Lua e a levar suas estrelas para muito mais alto. Mas na verdade ele não queria nos castigar e sim realizar os seus propósitos. Depois de pensar muito,  descobriu que o único meio de realizar aquele casamento seria levando o namorado da princesa para bem longe. Não se soube como, mas o fato é que o jovem foi tirado do castelo e levado à montanha Danibacuza.
A mãe numa casa da cidade e a noiva no palácio choraram desesperadamente o desaparecimento do jovem plebeu. A mãe lavou com seu pranto a dor da perda do filho. A noiva, depois de chorar muito, desconsolada, abandonou o palácio e saiu pelas montanhas atrás do seu amado.
O rei do Céu acompanhava tudo o que acontecia na Terra. A atitude da princesa enfureceu-o e, agora sim, ele resolveu nos castigar. Manteve o Sol no meio do céu e seus raios inclementes secaram a terra. Não chovia mais.
Sem vegetação, não havia mais diferença entre estradas, caminhos. E tudo, tudo ficou igual. Alucinada, a princesa andava errante, percorrendo várias vezes os mesmos caminhos. Até que um dia, na hora em que a luz era mais trêmula, ela adivinhou que o seu amado estava em Danibacuza. E, com toda a pressa e determinação que possuía, dirigiu-se para a montanha. Chegou banhada em suor, com um lampejo de alegria saltando-lhe pelos olhos. Mas duas sentinelas armadas com espadas de relâmpagos impediram-na de continuar sua busca. A dor, como uma enorme pedra, caiu sobre o coração da princesa e fez as suas lágrimas transbordarem. De seus olhos brotaram dois fios cheios de nozinhos de água. E essas lágrimas,movidas pelo vento, precipitaram-se sobre a cidade acabando com a seca. Pouco a pouco a filha do rei da Terra foi-se convertendo numa mulher de pedra.
Depois que a chuva parou, os homens saíram à sua procura. Quando a encontraram, nenhum deles quis tocá-la. De volta à cidade, os homens contaram que, em plena montanha, vigiada por sentinelas armadas de relâmpagos, estava a princesa petrificada, de pé. O povo todo aplaudiu o seu reaparecimento.

- É verdade, ela agora é de pedra, mas nos devolveu a chuva - repetiam.

Certa vez, as chuvas voltaram a ficar escassas. Os homens foram procurar a princesa e a encontraram deitada. A Terra estava bebendo o seu pranto, por isso não chovia. Os homens colocaram a princesa de pé e a chuva voltou a ser intensa e abundante, como quando pela primeira vez deixou de ser dádiva do rei do Céu para ser neta do rei da Terra. Desse dia em diante, os homens passaram a vigiar a posição da princesa para que ela ficasse sempre de pé, até a trazerem para a cidade em que a conheci.
Daí nasceu para esse povo o nome da chuva: nisagié, de nisa, água, e gié, pedra. Como quem diz: água que a pedra chora.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O CANTO DO CEGA REGA



PAÍS DE ORIGEM: GUATEMALA

Este é um conto antigo, tão antigo quanto o canto do cega-rega! E olhe que desde que o mundo é mundo que ouvimos o canto do cega-rega. É uma história de amor. Uma história de amor tão triste, que é por isso que o cega-rega canta primeiro baixinho, depois mais forte, até arrebentar.
Ah, esse cega-rega, tão apaixonado! Por isso podemos ouvi-lo nas noites de luar, com sua cantilena chocha, sempre a mesma lenga-lenga, cantando no mato junto com as rãs.
Mas vamos ver agora como foi que o cega-rega se apaixonou! Este animalzinho é um inseto boêmio e, desde que Deus o criou, dedicou-se a sair todas as noites a cantar para a Lua, quietinho num galho de ipê. Levantava as antenas para o céu e começava a cantar uma canção com aroma de estrelas e de boa-noite.
Os grilos viviam dizendo:
—  Como canta bem esse danado! Se não tomarmos cuidado, ele vai roubar as nossas namoradas.
— Será que ele está apaixonado? — perguntava uma rolinha vermelha à amiga, a rolinha cor de laranja.
—  Vai saber! Mas que ele é um ótimo cantor, isso eu sei que ele é!
—  É que ele quer arranjar uma namorada! — gritou a Lua de lá de cima, sorrindo.
— Sim, Lua, mas por mais que eu cante não aparece nenhuma garota bonita que queira casar-se comigo — respondeu o cega-rega, lá do seu galho de ipê.
—  O que é isso! Você está cheio de admiradoras! — respondeu-lhe a Lua, piscando para ele. — O que acontece é que elas não são como você.
—  Não são como eu? Claro que são! Todas elas são insetos de seis patas! E eu tenho seis... — disse o cega-rega, contando as suas patas para ver se não se enganara.
—  As patas não valem. O que vale é o coração. O coração da sua namorada deverá cantar no ritmo do seu — retrucou a Lua. — Bem, e agora deixe-me empoleirar lá no alto que já é quase meia-noite.
E dizendo isso, a Lua, de um só salto, pulou para as alturas do céu.
O cega-rega ficou pensando, pensando: ”Então minha namorada terá que ter um coração cantador como o meu? Cada coisa que passa pela cabeça da Lua!”.
Ficou a noite toda fazendo uma lista de insetinhas que conhecia: “A vespa? Não, essa não, porque em lugar de cantar, zumbe. A viúva-negra? Não pode ser. Essa aranha nem sequer canta. A carrapatinha? Menos ainda! Essa grudaria em mim e nem me deixaria cantar...”.
O Sol saiu com suas bochechas de gringo e encontrou o cega-rega dormindo como uma pedra, ao lado da lista de possíveis namoradas.
—  Psiu! Não façam barulho! — recomendou aos pássaros, franzindo sua bocona vermelha. — A Lua me contou que o cega-rega não pregou o olho a noite inteira, e se nós o acordamos agora, ele não vai cantar com vontade quando escurecer.
Todo o bosque guardou silêncio para velar o sono do cega-rega. Todos respeitaram. Todos, exceto uma insetinha atrevida que chegou do outro lado do rio.
—  Cega-rega, cega-rega, cega-rega! — cantava ela com voz cheia.
— Cale a boca, forasteira, que o nosso cantor está dormindo depois de passar a noite em claro, e assim você vai acordá-lo! — gritam todos os bichos, muito zangados pelo alvoroço que a estranha vinha fazendo.
—  Cega-rega, cega-rega, cega-rega! — insistiu a insetinha, batendo as asas rapidamente, até pousar no galho de ipê onde dormia o cega-rega casadouro. Este, com o escândalo, acordou num instante.
—  Cega-rega? — perguntou à insetinha forasteira, espreguiçando-se. — O que é cega-rega?
—  Cega-rega é você e sou eu! — respondeu-lhe a pequena estranha, enquanto exalava um perfume desconhecido para o jovem cega-rega, que o fez tremer da cabeça aos pés. — Você não canta como eu: “cega-rega, cega-rega, cega-rega”? — perguntou-lhe a desconhecida.
—  Não. Eu cantava canções para a Lua, mas de agora em diante vou cantar como você, porque o seu canto é uma festa! — respondeu o jovem entusiasmado.
Então a insetinha lhe fez a seguinte proposta:
—  Vamos voar até o capim que cresce à beira do rio?
O cega-rega mais do que depressa levantou voo atrás dela, e os dois pousaram num talinho de capim-de-burro.
—  Mais que coisa! Então você não sabia que é um cega-rega como eu? — perguntou-lhe a jovem, muito brejeira.
—  É, não sabia, não! Mas agora eu sinto que o meu coração bate no compasso da sua canção! Por que não cantamos?
Então deram-se as patinhas e, olhando-se nos olhos, entoaram a duas vozes a canção que todos nós conhecemos: “cega-rega, cega-rega, cega-rega!”.
Como vocês podem imaginar os dois não tinham olhos nem ouvidos para mais ninguém. Abraçados, cantaram o dia todo e até se esqueceram de almoçar. Ao entardecer, o cega-rega disse à sua amada:
—  Nós estamos apaixonados! Que tal a gente se casar hoje à noite? Assim você vem viver deste lado do rio junto comigo e a gente pode cantar todos os dias.
—  Sim, cega-rega! Claro que eu quero me casar com você hoje mesmo! Vou voando até o outro lado do rio contar aos meus amigos que vamos nos casar. Mas eu volto antes que a Lua esteja alta — respondeu a insetinha, emocionada. E selaram o compromisso com um roçar de antenas.
Enquanto isso, os insetos do bosque estavam loucos da vida.
— Essa chata do outro lado do rio veio ensinar ao nosso cantor essa musiquinha boba que diz: “cega-rega, cega-rega, cega-rega”. Eu não gosto nem um pouco. O que a gente poderia fazer? — observou uma minhoca, pondo a cabeça de fora por um buraquinho.
—  Eu acho que devemos impedir esse casamento! — disse uma mariposa.
— Eu concordo! Mas como? — perguntou um mosquito.
— Isso é fácil! — respondeu uma aranha bem pernóstica. — Eu posso tecer uma teia pegajosa no galho do sapotizeiro que pende para a outra margem do rio. Como essa passagem é obrigatória para voar para este lado do rio, a cega-rega terá que passar por ali e ficará presa em minha teia antes que possa dar um pio. Assim, o nosso cantor não vai saber por que ela não voltou para casar-se com ele, pois só a deixaremos livre muito tempo depois. O que vocês acham da minha ideia?
—  É ótima, estamos de acordo! — responderam em coro todos os insetos do bosque.
—  Muito bem — disse a aranha —, então mãos à obra. E dirigiu-se ao sapotizeiro a passos largos.
Enquanto isso, o noivinho cega-rega cantava muito contente, voejando em volta do ipê: cega-rega, cega-rega, cega-rega!”.
—  Já está ele cantando essa besteira! — queixou-se em voz baixa um pernilongo. — Mas deixa estar que não vai ser por muito tempo! A aranha já aprontou a teia no galho do sapotizeiro.
E era verdade mesmo. A noivinha cega-rega, ignorando a armadilha que lhe haviam preparado os insetos do bosque, voava com rapidez em direção ao rio. Mas antes que pudesse começar a cantar, chocou-se de frente com a teia de aranha. Não pôde mais se mexer! Os fios pegajosos envolveram-na completamente. Mais parecia uma crisálida do que uma cega-rega pequenina presa numa terrível teia de aranha!
As horas passavam lentamente para o noivo, que cantava: “cega-rega, cega-rega, por que você não vem?”. E só recebia o coaxar das rãs do rio como resposta. Sua angústia foi crescendo, quando notou que a Lua já estava muito alta e sua noiva ainda não chegara. Então se pôs a gritar desesperado:
—  Cega-rega, cega-rega, cega-rega, venha por favor!
— Ai, Esperancinha! — exclamou uma lagarta a uma esperança muito verde. — Será que não estamos cometendo um erro? Em lugar de cantar as belas canções de antes, ele está gritando tanto, que parece que vai arrebentar.
—  Imagine! Você vai ver como depois de todo esse alvoroço ele volta a cantar como a gente gosta — respondeu a esperança despreocupada.
Mas o cega-rega apaixonado não aguentava mais de tanta tristeza e começou a encher o peito para gritar com força: “cega-rega, cega-rega, cega-rega!”, pensando que ela talvez o escutasse do outro lado do rio.
—  CEEGA-REEEGAAAA! PLOC!
—  Ploc! O que foi esse ploc? — perguntou uma saúva a um bicho-carpinteiro.
—  Não sei — disse o segundo. — Vamos lá ver.
Quando chegaram ao galho do ipê onde o cega-rega vivia, viram com espanto que ele arrebentara, explodira como uma bexiga colorida.
Desde então, conta a lenda, os cega-regas cantam por amor até arrebentarem. Todos os insetos do bosque sabem disso e já não tratam de forçá-los a cantar canções para a Lua. Agora escutam com respeito o velho canto: “cega-rega, cega-rega, cega-rega...!”

sexta-feira, 18 de abril de 2014

HISTÓRIA DO DEUS SOL E A RAINHA DAS ÁGUAS

PAÍS DE ORIGEM: EQUADOR

Há muitos e muitos anos, quando deste lado do mundo não existiam outros deuses além dos astros, das forças e dos elementos naturais, o sol imperava sobre todos eles e era amo e senhor de toda a América índia.
Sua vontade era bastante para desencadear tormentas ou secar mares. Quando se lhe rendia culto, fecundava os campos e abençoava os lares. Mas ai do insensato que se atrevesse a desafiar sua ira! Nada podia esperar senão fome, frio, dor e morte.
Conta a história que o deus Sol costumava tomar a forma de um garboso chefe guerreiro para visitar suas ilhas prediletas no oceano Pacífico. E certa vez, enquanto caminhava sobre a branca espuma que as ondas estendiam sobre a areia, conseguiu divisar uma lindíssima donzela que emergia das mansas águas do mar sentada sobre a carapaça de uma tartaruga gigantesca. Ficou imediatamente seduzido por sua figura esbelta, seu talhe delicado, sua tez cobreada e fresca, seus cabelos mais negros do que a noite e a estranha doçura derramada por seus olhos cor de mel.
Cativado, pois, pela graça da jovem, o soberano dos deuses aproximou-se dela para falar-lhe. Mas, ao notar a presença estranha, a tartaruga submergiu nervosamente nas ondas verde-azuis, levando consigo a misteriosa donzela.
Ao vê-la desaparecer, o Sol ficou tão triste que chorou sem parar durante muitas horas, provocando uma descarga de sombras sobre as ilhas indefesas. Bastou uma leve insinuação do deus enfurecido, e o vento tornou-se mais intenso, rugindo horrivelmente; os furacões ameaçaram destruir toda vegetação, e as ondas, encrespadas, provocaram terríveis maremotos.
Pereceram, naquela ocasião, todos os seres humanos e a maioria dos animais que habitavam as ilhas.
As pouquíssimas espécies sobreviventes reuniram-se aterrorizadas:
—        Ai! De uma hora para outra vamos morrer! — lamentavam-se os pinguins, escondendo a cabeça entre as asas.
—        Se pelo menos pudéssemos fazer alguma coisa! — disse uma iguana.
—        É a fúria dos deuses! — chiaram as focas. — É hora de falar claro!
E o leão-marinho narrou-lhes a cena que presenciara durante essa manhã, quando, ao contemplar a saída do Sol, viu como este assumia a figura humana que desceu sobre as ilhas para, em seguida, chorar de amor pela linda donzela das águas.
—        Temos que procurar a tartaruga e pedir-lhe que volte com a jovem — disse um albatroz. — Só assim evitaremos a morte certa.
—        Hum!... — lembrou um bicudo balançando a cabeça com ar pessimista. — Tempos atrás expulsamos deste arquipélago todas as tartarugas. Elas devem guardar por nós um profundo rancor.
—        E por que não lhes pedimos perdão? — sugeriu um biguá. — E então lhes propomos compartilharem novamente as ilhas conosco.
—        E se elas não aceitarem? — perguntou um pelicano. — Puxa, que situação!
Depois de uma assembleia tensa, nomeou-se uma comissão de animais para falar com as tartarugas. Tal comissão seria presidida pelo Delfim – reputado como um dos mais inteligentes mamíferos do lugar – e integrada pelos mais velhos lagartos, baleias, caranguejos e lagostas do arquipélago. Aceita a missão, partiram à procura da tartaruga gigante.
As águas estavam escuras e turbulentas, e só depois de várias horas de árdua caminhada pelo oceano agitado, encontraram uma imensa e belíssima mansão, rodeada de jardins de corais e caminhos cintilantes, cuja estrutura de madrepérolas a fazia brilhar mais do que a Lua Cheia num céu limpo. Atravessaram vários corredores atapetados com fosforescentes algas avermelhadas e chegaram a um jardim repleto de tartarugas-do-mar. Mais adiante, guardando uma porta cravejada de pérolas, estava a tartaruga gigante.
—  Que desejam aqui? — perguntou-lhes ela com desprezo.
—  Viemos falar com você — atreveu-se a dizer o Delfim, entre humilde e temeroso.
— Que estranhas me soam as suas palavras! — exclamou a tartaruga. — Acaso se esqueceu de que há muito tempo vocês nos expulsaram das ilhas, acusando-nos de pesadas e lentas?
—  Não, não me esqueci — balbuciou o Delfim —, mas...
—  Mas o quê? — interrompeu a tartaruga.  — Não fosse a Rainha das Águas ter-nos acolhido em seus domínios, até hoje andaríamos errantes pelo arquipélago. Aqui temos vivido tranquilas até agora...
—  Por certo que têm vivido tranquilas — interveio um lagarto —, mas você poderia me garantir que têm vivido felizes?
—  Felizes?  Repetiu, pensativa, a tartaruga. — Bem, felizes não, certamente que não. Porque ficamos longe das ilhas onde nascemos. E é por isso que, de vez em quando, levadas pela saudade, subimos para contemplar a nossa antiga e querida pátria. Mas nos resignamos ao desterro!  - concluiu. — Agora deixem-nos em paz!
— Isso mesmo, vão embora! — disseram as tartarugas-do-mar, que se haviam amontoado em volta dos visitantes.
— Esperem um momento — pediu a baleia. — Nós já reconhecemos que a nossa acusação era injusta. Todos nós somos, em maior ou menor grau, pesados e lentos... para certas coisas. Mas o que queremos mesmo dizer a vocês é que não soubemos dar valor às enormes virtudes que sempre tiveram as tartarugas.
—  Essa é boa! — disse a tartaruga gigante. — Agora até virtudes nós temos...
— Claro que têm! — gritou o caranguejo. — A idade de vocês permitiu-lhes acumular a experiência e a sabedoria que falta a nós, mais jovens; transformou-as em vivazes sentinelas do arquipélago, em memória viva e símbolo de nossas ilhas.
— E o andar lento de vocês — acrescentou a lagosta — sempre nos faz lembrar que a pressa é inimiga da perfeição.
— Vocês nos fazem falta e queremos que voltem — disse o Delfim. — Se aceitarem as nossas desculpas e regressarem, batizaremos as ilhas com o nome pelo qual vocês tartarugas-do-mar são conhecidas por lá: Galápagos. E então, querem voltar as Ilhas Galápagos?
— Hum... — sussurraram as tartarugas-do-mar, ainda indecisas e com os olhos fixos na tartaruga gigante. Esta permaneceu em silêncio, e, passado um momento, disse:
— Nós não poderíamos abandonar a Rainha das Águas, que tão generosa foi conosco. Nãos seria certo.
Então a porta cravejada de pérolas se abriu e apareceu a Rainha, que ouvira tudo.
— Escutem — propôs —, vocês não devem se preocupar comigo. Podem retornar à sua pátria e virem visitar-me sempre que quiserem. Assim eu não voltarei a ficar tão só quanto antes...
— Oh, senhora — disse cerimonioso o Delfim —, lá em cima, na superfície, está um jovem guerreiro que não é outro senão o deus Sol, chorando por seu amor. E, ao não poder vê-la, espalhou sombra e convulsão por toda parte, com o apoio dos seus irmãos, o deus Raio e a deusa Tempestade. Os seres humanos morreram e nós morreremos também se ele não puder encontrá-la. Ainda que seja uma só vez, suba para vê-lo, por favor!
— Vou confessar-lhe uma coisa, meu talentoso amigo — disse a bela ninfa, corando: — eu também amo esse jovem que com frequência visita as ilhas e costuma caminhar garboso, pela praia, sobre o branco tapete de espumas. Conheço-o há bastante tempo, mas jamais permiti que ele me olhasse, até esta manhã, quando me surpreendeu observando-o... Não sabia que ele me amava e que estivesse agora sofrendo por mim. Já que vocês me pedem, irei vê-lo.
Cansado de chorar escuridões, o deus Sol adormecera com o rosto voltado para o horizonte. Mas um perfume tênue, espalhado pela brisa, inundou o ambiente com um penetrante frescor despertando-o. abriu os olhos e ela estava ali, sorrindo para ele, como na mais profunda poesia do sonho.
A história conta também que, a partir desse acontecimento, o céu que limita o arquipélago é sempre azul, limpo e luminoso; o mar é límpido e transparente; a fauna é excepcional; a paisagem é incrível e a vegetação deslumbrante.
Dizem que as tartarugas-do-mar, que retornaram às ilhas, foram agraciadas pelo deus Sol com o dom da suprema longevidade e que a tartaruga gigante ainda existe.
Segundo parece, o deus Sol casou-se com a Rainha das Águas, e os seus descendentes repovoaram as ilhas com a espécie humana, rodeando-a com encantos e maravilhas.
Afirma-se também que, desde então, a Rainha é muito feliz, porque, além de receber com frequência a visita das tartarugas-do-mar, o Sol vive com ela em seu palácio submarino. Levanta-se cedinho para iluminar a Terra e, após os últimos resplendores crepusculares, recolhe-se em seu lar, onde, entre tênues fosforescências de algas e fulgores de madrepérola, sua amada o espera eternamente.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O CACTO E O JUNCO

PAÍS DE ORIGEM: COLÔMBIA

Tintoba, um belo rapaz de vinte anos, alto e forte, com os cabelos pretos e os olhos escuros dos índios chibchas, um belo dia quis conhecer o mundo e foi embora de casa. Percorreu os verdes vales de Sogamoso, alimentou-se de maracujás em Duitama e tomou mel em Tibasosa. Fez bichinhos de barro em Ráquira, extraiu esmeraldas das rochas do Muzo, e no lago de Tota aprendeu a pescar.
Certo dia foi nadar num riacho de pedras redondas. Estava tão cansado que adormeceu debaixo de um salgueiro. Entre sonhos, ouviu vozes e risadas de mulheres que tinham ido lá para buscar água. Despertou quando a última delas, antes de se afastar, ofereceu-lhe de beber. Tintoba ficou enfeitiçado por aqueles olhos que lhe sorriam e desafiavam a negrura do carvão que ele lavrara nas minas. Bastou-lhe vê-la para ficar apaixonado.
Ela matou a sede do rapaz, mas fez nascer o amor em seu coração. Entretanto Tintoba não a seguiu de imediato. Olhando as nuvens enquanto secava ao sol sua roupa recém-lavada, pôs-se a pensar nas palavras que lhe diria.
Mas quando chegou ao povoado mais próximo, procurando por ela, ninguém soube informar-lhe nada: ele se esquecera de perguntar-lhe o nome.
Como não conseguia tirar da cabeça o brilho daquele olhar, decidiu instalar-se ali até encontrá-la. Ensinaram-lhe a trabalhar a lã e ele começou a tecer uma manta, com a qual esperava, alguma dia, presentear a amada.
Um dia, Tintoba em seu tear, entremeando lãs coloridas com suspiros de amor, quando a gritaria de umas crianças o trouxe de volta a realidade. Acabava de despontar na estrada uma rica comitiva de homens carregados de peles, plumas e jóias para a filha do cacique da aldeia. Tardaram mais os mensageiros em sair para anunciar o casamento da princesa com o poderoso cacique de outras terras do que Tintoba em sentir uma pontada no coração, ao pressentir a tragédia do seu amor. Não pôde mais se concentrar no trabalho. A alegria dos outros o incomodava. Ao entardecer, chorou sem saber por quê.
Nessa mesma noite, passeando o seu desassossego, encontrou uma bela jovem chorando, encolhida junto ao tronco de uma árvore. Ao sentir-se observada, ela levantou o rosto, e ele imediatamente reconheceu aqueles olhos. A jovem desconsolada era a mesma que um dia acalmara a sua sede. Ela lhe contou que se chamava Súnuba, que era a noiva do cacique guerreiro e que se sentia muito infeliz porque o pai a estava obrigando a se casar com um homem que ela jamais poderia amar. Tintoba compreendeu então que, quando Súnuba lhe dera água no riacho, ela também se apaixonara por ele. Desde esse momento e nesse mesmo bosque de araçás e aroeiras, beijaram-se todas as noites ao luar. Na véspera do inevitável casamento, choraram abraçados. Quando de madrugada o céu se abriu no azul da aurora e os primeiros pássaros cantaram, Tintoba despediu-se da amada jurando algum dia unir-se a ela.
Tintoba voltou à casa de seus pais; mas como não podia parar de pensar em Súnuba, um dia, desesperado, decidiu ir buscá-la. Ao chegar à casa do cacique guerreiro, disse que trazia umas esmeraldas de presente para a princesa, e os guardas o deixaram entrar.
O cacique havia partido para lutar contra outra tribo, de modo que os amantes puderam se encontrar sem preocupação. Súnuba o fez seu guarda particular para poder tê-lo sempre ao seu lado sem levantar suspeitas. Mas a felicidade se espelha no rosto, e o amor desperta invejas. Súnuba ficou mais bela do que nunca, e o guarda favorito foi surpreendido várias vezes dormindo em horas de vigilância. Começaram o falatório entre as outras mulheres do cacique e, tão logo ele voltou, vitorioso e carregado de presentes para Súnuba, elas, enciumadas, contaram-lhe o que todo o povo já sabia e desaprovava.
Súnuba foi depressa avisar Tintoba do perigo que corriam, e os dois fugiram por florestas e atalhos que poucos conheciam como ele, até chegarem ao vale onde viviam os pais de Tintoba. Ali, Súnuba aprendeu a fiar. Juntos plantaram árvores frutíferas que dariam peras suculentas e tenros pêssegos. A vida lhes sorria. Uma tarde, de volta ao trabalho, Tintoba encontrou em casa um viajante que entrara para pedir um gole de água e um banco para descansar. Mal se viram, reconheceram-se. Era um enviado do cacique que, por fim, descobrira o paradeiro dos amantes fugitivos, e que revelou imediatamente o seu segredo. Os familiares ficaram horrorizados, pois sabiam, como todo chibcha, que aquele que roubasse a mulher do outro seria duramente castigado.
Súnuba e Tintoba compareceram perante o Grande Sacerdote do Sogamoso. Ele ordenou a Súnuba que voltasse imediatamente para seu marido. Tintoba deveria oferecer sacrifícios para aplacar a ira divina. Mas antes de partir,  Súnuba pediu permissão para ir buscar suas jóias, e aproveitou a oportunidade para fugir com Tintoba.
De repente, um grande ruído retumbou no vale e a terra tremeu. Os amantes correram espavoridos morro abaixo. Em sua corrida desenfreada, Tintoba sentiu que suas pernas não lhe obedeciam mais, e, num instante, todo o seu corpo se converteu num cacto cheio de espinhos pontiagudos. Súnuba também ficou presa no pântano de uma lagoa e tomou a forma de um junco.
A terra voltou ao repouso. Hoje eles ainda estão lá; o cacto à margem da lagoa onde tremula o junco. Vêem-se mas não podem se falar.

segunda-feira, 31 de março de 2014

AS LÁGRIMAS DE POTIRA

PAÍS DE ORIGEM: BRASIL

Muito antes de os brancos atingirem os sertões de Goiás, em busca de pedras preciosas, existiam por aquelas partes do Brasil muitas tribos indígenas, vivendo em paz ou em guerra e segundo suas crenças e hábitos. Numa dessas tribos, que por muito tempo manteve a harmonia com seus vizinhos, viviam Potira, menina contemplada por Tupã com a formosura das flores, e Itagibá, jovem forte e valente.

Era costume na tribo as mulheres se casarem e os homens, assim que se tornassem guerreiros. Quando Potira chegou à idade do casamento, Itagibá adquiriu sua condição de guerreiro. Não havia como negar que se amavam e que tinham escolhido um ao outro. Embora outros jovens quisessem o amor da indiazinha, nenhum ainda possuía a condição exigida para as bodas, de modo que não houve disputa, e Potira e Itagibá se uniram com muita festa.

Corria o tempo tranquilamente, sem que nada perturbasse a vida do apaixonado casal. Os curtos períodos de separação, quando Itagibá saía com os demais para caçar, tornavam os dois ainda mais unidos. Era admirável a alegria do reencontro!

Um dia, no entanto, o território da tribo foi invadido por vizinhos cobiçosos, devido à abundante caça que ali havia, e Itagibá teve que partir com os outros homens para a guerra. Potira ficou contemplando as canoas que desciam rio abaixo, levando sua gente em armas, sem saber exatamente o que sentia, além da tristeza de se separar do seu amado por um tempo não previsto. Não chorou como as mulheres mais velhas, talvez porque nunca houvesse visto ou vivido o que sucede numa guerra.

Mas todas as tardes ia sentar-se à beira do rio, numa espera paciente e calma. Alheia aos afazeres de suas irmãs e à algazarra constante das crianças, ficava atenta, querendo ouvir o som de um remo batendo na água e ver uma canoa despontar na curva do rio, trazendo de volta seu amado. Somente retornava à taba quando o sol se punha e depois de ir lá uma última vez, tentando distinguir no entardecer o perfil de Itagibá.

Foram muitas tardes iguais, com a dor da saudade aumentando pouco a pouco. Até que o canto da araponga ressoou na floresta, desta vez não para anunciar a chuva mas para prenunciar que Itagibá não voltaria, pois tinha morrido na batalha.

E pela primeira vez, Potira chorou. Sem dizer palavra, como não haveria de fazer nunca mais, ficou à beira do rio para o resto de sua vida, soluçando tristemente. E as lágrimas que desciam pelo seu rosto sem cessar foram-se tornando sólidas e brilhantes no ar, antes de submergir na água e bater no cascalho do fundo.

Dizem que Tupã, condoído com tanto sofrimento, transformou suas lágrimas em diamantes, para perpetuar a lembrança daquele amor.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O UAPÉ

PAÍS DE ORIGEM: ARGENTINA.

Pitá e Moroti amavam-se muito; e se ele era o mais esforçado dos guerreiros da tribo, ela era a mais gentil e formosa das donzelas. Porém Nhandé Iara não queria que eles fossem felizes; por isso, encheu a cabeça da jovem de maus pensamentos e instigou a sua vaidade. Uma tarde, na hora do pôr-do-sol, quando vários guerreiros e donzelas passeavam pelas margens do rio Paraná, Moroti disse:

- Querem ver o que este guerreiro é capaz de fazer por mim? Olhem só!

E, dizendo isso, tirou um de seus braceletes e atirou-o na água. Depois, voltando-se para Pitá, que, como bom guerreiro guarani era um excelente nadador, pediu-lhe que mergulhasse para buscar o bracelete. E assim foi. Em vão esperaram que Pitá retornasse à superfície. Moroti e seus acompanhantes, alarmados, puseram-se a gritar... Mas era inútil, o guerreiro não aparecia. A desolação logo tomou conta de toda a tribo. As mulheres choravam e se lamentavam, enquanto os anciãos faziam preces para que o guerreiro voltasse. Só Moroti, muda de dor e arrependimento, como que alheia a tudo, não chorava. O pajé da tribo, Pegcoé, explicou então o que ocorria. Disse ele, com a certeza de quem já tivesse visto tudo:

- Agora Pitá é prisioneiro de I Cunhã Pajé. No fundo das águas, Pitá foi preso pela própria feiticeira e conduzido ao seu palácio. Lá Pitá esqueceu-se de toda a sua vida anterior, esqueceu-se de Moroti e aceitou o amor da feiticeira; por isso não volta. É preciso ir buscá-lo. Encontra-se agora no mais rico dos quartos do palácio de I Cunhã Pajé. E se o palácio é todo de ouro, o quarto onde Pitá se encontra agora, nos braços da feiticeira, é todo feito de diamantes. E dos lábios da formosa I Cunhã Pajé, que tantos belos guerreiros nos tem roubado, ele sorve esquecimento. É por isso que Pitá não volta. É preciso ir buscá-lo.

- EU VOU!!! ▬ exclamou Moroti. ▬ EU VOU BUSCAR PITÁ!

- Você deve ir, sim ▬ disse Pegcoé. ▬ Só você pode resgatá-lo do amor da feiticeira.Você é a única, se de fato o ama, capaz de vencer, com esse amor humano, o amor maléfico da feiticeira. Vá, Moroti, e traga Pitá de volta!

Moroti amarrou uma pedra aos seus pés e atirou-se ao rio. Durante toda a noite, a tribo esperou que os jovens aparecessem. As mulheres chorando, os guerreiros cantando e os anciãos esconjurando o mal.
Com os primeiros raios da aurora, viram flutuar sobre as águas as folhas de uma planta desconhecida: era o uapé. E viram aparecer uma flor muito linda e diferente, tão grande, bela e perfumada como jamais se vira outra na região. As pétalas do meio eram brancas e as de fora vermelhas. Brancas como o nome da donzela desaparecida: Moroti. Vermelhas como o nome do guerreiro: Pitá. A bela flor exalou um suspiro e submergiu nas águas.
Então Pegcoé explicou aos seus desolados companheiros o que ocorria:

- Alegria, meu povo! Pitá foi resgatado por Moroti! Eles se amam de verdade! A malévola feiticeira, que tantos homens já roubou de nós para satisfazer o seu amor, foi vencida pelo amor humano de Moroti. Nessa flor que acaba de aparecer sobre as águas, eu vi Moroti nas pétalas brancas que eram abraçadas e beijadas, como num rapto de amor, pelas pétalas vermelhas. Estas representam Pitá. E são descendentes de Pitá e Moroti estes belos uapés que enfeitam as águas dos grandes rios. No instante do amor, as belas flores brancas e vermelhas do uapé aparecem sobre as águas, beijam-se e voltam a submergir. Elas surgem para lembrar aos homens que, se para satisfazer um capricho da mulher amada um homem se sacrificou, essa mulher soube recuperá-lo, sacrificando-se também por seu amor. E se a flor do uapé é tão bela e perfumada, isso se deve ao fato de ter nascido do amor e do arrependimento.

APRESENTAÇÃO

Graças à tradição oral, contos e lendas passam de uma geração a outra. Tudo começou, talvez, numa caverna, e dali foi ocupando espaço em todas as terras da geografia humana. As conquistas  de uns povos por outros, as guerras, as migrações... Foram difundindo as tradições contadas pelos avós no calor da família. A invenção da imprensa salvou do esquecimento muitas dessas tradições. Outras se perderam, quiçá para sempre, ou talvez as carreguemos dentro de nós sem saber. O folclore latino-americano enlaça de modo sutil as tradições indígenas, africanas e europeias. Esse sincretismo é o traço comum na cultura de tantos e aparentemente tão diversos países. Toda semana estarei trazendo para vocês uma nova história. Se gostarem, indiquem para seus amigos. Vamos partilhar conhecimento. Obrigado.